outubro 03, 2010

Seis milhões!

Em pequena nota que li na edição portuguesa da Foreign Policy fiquei a saber que a meados deste século poderemos ter cerca de 6 milhões de humanos com mais de 100 anos. Actualmente não chegam aos 400 000.
Conseguimos imaginar as consequências disso?
Todas, não sei, mas seria bom que antecipássemos algumas e excelente que nos preocupássemos em resolvê-las desde hoje.
Uma delas parece-me que será a ideia, que jamais deveremos ressuscitar, de que nos reformaremos mais cedo, ficando com mais tempo de fruição.
Do meu ponto de vista o que vai acontecer, julgo que já está ver-se, é precisamente o contrário: A idade da reforma vai aumentar.
O resultado vai ser um estreitamento das oportunidades das gerações mais novas, que no caso da minha foram até alargadas por um movimento de reestruturação empresarial feito, pelo menos em Portugal, com base em inúmeras reformas antecipadas, o que deu um importante contributo para a aproximação do fim da capacidade de financiarmos o sistema de pensões pelas formas que ainda são utilizadas no nosso país.
Que soluções haverá para isto?
Como poderemos assegurar a existência de oportunidades para os mais jovens e, simultaneamente, garantir algum nível de actividade dos cidadãos seniores?
Uma hipótese de estudo seria combinarem-se sistemas de trabalho em tempo parcial com reformas parciais e desenvolver o trabalho em tempo parcial para jovens em início de carreira, que poderiam compaginar a realização de mestrados e pós-graduações com a prática de uma profissão.
Haverá outras áreas e sectores afectados pelo aumento do número de centenários, mas este parece-me, contudo, um dos mais importantes e um dos que carece de uma resposta que teremos de começar a construir já.
Se o fizermos talvez não cheguemos a ter problema.

NOTA: Uma adaptação deste artigo foi publicada na edição de 13 de junho de 2012 do Açoriano Oriental.

agosto 05, 2010

O que produzimos?

Vivemos no país uma época difícil.
Discutimos, por isso, há poucos meses a forma de arranjarmos mais receitas para pagar o que gastamos e que poucas despesas deveríamos deixar de fazer.
No estado de necessidade em que nos encontramos é irrealista esperarmos que o famoso limite do défice pode ser alcançado sobretudo pelo crescimento do PIB.
Todavia, para que o problema seja estruturalmente resolvido, temos de fazer uma reflexão sobre o que produzimos.
O que produz Portugal?
Não quero nem vou responder!
Não faço um “blog” de propaganda nem o faço para procurar convencer os outros da bondade das minhas ideias. O propósito desta minha participação cívica, é assim que vejo o PM412C, é partilhar o que penso e, também por essa via, desafiar à reflexão. A reflexão desapaixonada de cada um dos cidadãos.
O que produz a nossa agricultura?
O que retiramos do mar?
Que valor acrescenta a nossa indústria?
Poderemos ser apenas, ou sobretudo, um país prestador de serviços?
Quanto do que é incorporado no nosso produto turístico é produzido localmente? Quanto é importado?
O que valem os nossos recursos humanos? Estamos a fazer o que devemos para valorizá-los?
Quanto tempo dedicamos a pensar neste lado da equação?
Quanto tempo despendemos a discutir o que e como gastar o que não temos?
O que produzimos?

junho 06, 2010

Não somos Usain Bolt!!

Usain Bolt é o homem mais rápido do mundo. É o recordista mundial dos 100 e 200 metros planos.
Os recordes, e as vitórias que eles garantiram, são fruto de muito trabalho e incontáveis sacrifícios, mas, também de condições inatas que o fazem ter aptidão para a velocidade.
Por mais que quisesse ou sonhasse, mesmo que trabalhasse e me sacrificasse tanto como ele, jamais o poderia bater.
Não fui feito para a velocidade!
Serei infeliz por isso?
Não me sinto realizado como homem por isso?
Dos milhões e milhões de habitantes que o mundo tem Usain Bolt não é o único homem feliz!
Se é certo que muitos têm tudo para conseguir bater recordes, muitos, porque lhes faltam os pressupostos físicos, passam para além dos limites do razoável, dopando-se, na busca da glória imediata.
O doping é uma ilusão que nada garante a não ser a perca da saúde a longo prazo.
Cada um de nós tem de encontrar a sua corrida. A sua especialidade.
Em Portugal fixámo-nos numa corrida de 100 metros.
Tínhamos de correr mais rápido do que os outros. Crescer mais depressa para sermos, com brevidade, tão bons como os maiores, apesar de sermos pequenos.
Dopámo-nos!
Recebemos fundos comunitários para alavancar o nosso crescimento e endividámo-nos para os poder receber.
A certa altura pensámos ser capazes. Íamos conseguir!
Chegámos, agora, à conclusão de que a nossa saúde está gravemente afectada.
Estamos a correr a corrida certa?
É esta a nossa especialidade?
É este o ritmo que aguentamos?
Podemos ser Usain Bolt?

NOTA: Uma adaptação deste artigo foi publicada a 16 de maio de 2012 no Açoriano Oriental.

maio 05, 2010

Pouco todos os dias

Em Portugal gostamos todos de grandes feitos. De grandes obras. De reformas. De coisas que encham o olho e abram a boca!!
Será assim porque não queremos ficar fora da história?
Será assim porque queremos ser tão grandes como Vasco da Gama?
Ou será assim porque queremos que tudo fique na mesma?
O que é grande nunca se faz! Assusta-nos! Mete-nos medo!
E se em vez de um passo maior do que as pernas déssemos muitos pequenos passos?
E se mudássemos apenas pequenas coisas?
Quão diferente seria o nosso Portugal se em cada dia mudássemos uma pequena coisa?
O trabalho estimulante e motivador que o Estado poderia dar aos seus trabalhadores é feito por assessores dos gabinetes ministeriais, que são pessoas de fora da administração pública, e por consultores externos.
Se se invertesse essa realidade teríamos funcionários públicos mais interessados no seu trabalho e mais competentes. Poderíamos, também, produzir algumas poupanças.
Eis uma pequena mudança para a qual não é necessária legislação prévia nem orçamento que a financie. Só carece de vontade, que parece ser aquilo de que mais falta temos!

abril 25, 2010

A pergunta impossivel

Há cerca de 20 anos dei um contributo, curto, ao jornal Açoriano Oriental, coordenando um suplemento de economia que na altura se publicava semanalmente.
No âmbito dessa efémera colaboração assinava a cada sete dias uma breve reflexão sobre um tema.
Um amigo meu, um dia, felicitou-me pelo formato reduzido desses meus escritos. Eram simples e de leitura rápida, coisas valorizadas num tempo cada vez mais escasso para abarcar tudo a que temos de dar atenção.
Gosto de pensar e conversar, mas escrever sempre foi uma obrigação que cumpro, na última hora, de forma seca e simples. Nunca escrevi, por isso, grandes textos.
Quando comecei no facebook experimentei, pela primeira vez, a dificuldade de conseguir dizer o que queria partilhar utilizando apenas os 421 caracteres permitidos.
O “Pelo Menos 421 Caracteres” (pm421c) nasceu para ultrapassar esse problema.
Uma vez por semana cá estarei a registar um naco das reflexões que faço sobre o mundo em que vivemos.
O Estado tem um papel nos dias de hoje. Defendo-o e julgo que ele é imprescindível para garantir uma sociedade justa e equilibrada.
Sou um frontal adversário da ideia, que hoje me parece prevalecer, de que o Estado está para tudo, ou porque se mete ou por que é chamado.
Sim. Há responsabilidades dos dois lados da questão. O Estado apresenta-se, impondo-se, a jogo em áreas e casos onde deveria apenas observar ou regular. Mas o Estado também é chamado, indevidamente, por cidadãos que, por fraqueza ou conveniência, se habituaram a nada fazerem sem ajuda paternal.
Infelizmente esta tendência vai-se entranhando na sociedade e vai emergindo uma impotência generalizada dos cidadãos pensarem e fazerem a sua vida sem procurarem um apoio estatal.
Contou-me pessoa conhecida que há uns dias, a propósito do fim da distribuição televisiva em sinal analógico, um jornalista perguntou a um governante se a Região estaria a ponderar subsidiar os cidadãos na necessária aquisição de aparelhos receptores de TV adaptados à nova tecnologia digital.
Uma pergunta destas só se faz porque se admite como resposta que Estado poderia dar essa ajuda, o quer dizer que já alguém chegou ao ponto de pensar que o aparelho de televisão que temos em casa poderá ser, pelo menos em parte, pago pelo Estado!
Foi o caminho que temos percorrido que tornou possível esta pergunta!