outubro 08, 2011

São o que deveriam?

Um partido político é um quadro de valores nos quais nos revemos, isto é, reconhecemos-lhe validade para guiarem a vida da sociedade.
Em cada momento o que se espera de um partido político é que seja capaz de traduzir para a prática do dia a dia esses princípios e valores, o que tem de ser feito, é claro, considerando a leitura que o partido faz do mundo que o circula.
Um partido não pode pois viver longe dos seus princípios nem na ignorância da realidade.
Se esquecer os seus valores, ou se perder a sua essência, deixa de fazer sentido, se não olhar à sua volta, ou seja, se não atender à realidade, perde o sentido.
Mas um partido é, também, as pessoas que o compõe. Um partido não vive sem pessoas!
Pessoas livres, que partilham valores.
Pessoas que olham o mundo tal qual ele é: Grande e diverso.
Pessoas que pensam no que vêem, no que sentem e no que ouvem.
Pessoas que debatem e participam.
Pessoas que se respeitam.
Um partido não é um líder, nem um instrumento de concretização das suas ideias. Pelo contrário, o líder tem de servir a materialização dos valores do partido.
Um partido é uma vontade colectiva feita de pessoas.
Como são os partidos em Portugal?

março 20, 2011

O Sistema

O Sistema parecia ser uma invenção do futebol português.
O Sistema é algo sem ser alguém, que poderemos responsabilizar pelo que corre mal.
Sendo ninguém, o Sistema encobre quem quer produzir um resultado sem ser visto.
O Sistema serve a todos!
A uns externaliza o problema. Não é necessário mudar porque é o Sistema!
A outros possibilita deixar a aldrabice fora de casa, porque não foram eles. Foi o Sistema!
O Sistema permite que se acuse sem se acusar e se manobre sem se manobrar.
A presente crise também foi obra do Sistema!
Quem fez o Sistema?
Quem o constitui?
Quem o mantinha (mantém) e o alimentava (alimenta)?
O que permitiu esta crise foi a falta de valores e a ausência de carácter.
Chegámos aqui por excesso de confiança, por desconcentração, por ilusão, por arrogância e convencimento!
Agora estamos a reparar o Sistema, mas não mudamos!
Não mudamos nas atitudes, nos valores, nas prioridades, nos objectivos que prosseguimos e nos caminhos que escolhemos.
Não mudamos. Mantemos o Sistema.
Vamos ficar como estamos!!

NOTA: Uma adaptação deste artigo foi publicada na edição de 9 de maio de 2012 do Açoriano Oriental.

fevereiro 06, 2011

O nosso papel no mundo

Quando fiz os 10º e 11º anos nunca entendi bem a necessidade de termos a cadeira de Filosofia. Na realidade não houve alguém que me tivesse dito que ela servia para nos ensinar a pensar.
É isso! Simplesmente isso, que a inclusão da Filosofia nos currículos desse grau de ensino pretende. Este é o meu entendimento do facto.
Uma das coisas que mais gosto de fazer é pensar e reflectir sobre o que vejo, ouço ou leio.
O interesse pela leitura justifica o prazer dos livros, que me leva a dar demorados passeios pelas livrarias.
Há dias, quando caminhava por uma livraria de Lisboa, bati de frente com um título que me chamou a atenção: “O Efeito Medici”.
Lembrei-me da família Medici, do Renascimento e das aulas de História. Pensei em mecenato, criatividade e inovação, conceitos que liguei, uma vez que se tratava de um livro de gestão, às organizações empresariais de hoje.
Peguei-lhe, abriu-o, comecei a ler a introdução e surpreendi-me!
“O Peter Café Sport fica numa colina da Horta, cidade portuária de uma das ilhas dos Açores, no meio do oceano Atlântico. Assim que se chega às docas, no porto, percebe-se que este lugar é especial. Ao longo dos pontões alinham-se brilhantes e coloridas pinturas de veleiros e de bandeiras – centenas e centenas, desenhadas por capitães e membros de tripulações que por aqui passaram vindos de todas as partes do mundo. Situada entre a América e a Europa, a Horta é um lugar onde os marinheiros que viajam pelo mundo param para uma pausa. Alguns dirigem-se às ilhas Fiji, outros a Espanha. Alguns estão na sua segunda volta ao mundo, outros simplesmente descansam antes da sua última etapa a caminho do Brasil. Provêm de diferentes culturas e têm passados variados. E todos eles convergem para o Peter Café Sport, um estabelecimento com ar rústico. Aqui podem recolher cartas com vários anos, escritas por outros viajantes planetários, ou simplesmente sentarem-se a falar, com uma cerveja ou um cálice de vinho Madeira na mão.
Quando vi pela primeira vez este estabelecimento, apercebi-me de que o seu ambiente sereno escondia na verdade um universo caótico – repleto que estava de ideias e de pontos de vista oriundos de todos os cantos do mundo, tudo a mesclar-se e a colidir entre si.
- Ouve esta, eles não usam anzóis na pesca do esmerilhão em Cuba – dizia um visitante.
- Então o que usam? – pergunta outro.
- Trapos. A isca é coberta por um trapo. Quando o peixe morde no trapo, enrola-se no gancho e não se solta devido à fricção. Não fica ferido e pode ser libertado, sem nenhum problema.
- Isso é bastante bom. Talvez pudéssemos usar algo desse género…
Aqui as pessoas participam naquilo que parece ser uma combinação quase aleatória de ideias. Conversa puxa conversa, e nunca se sabe que ideia surgirá a seguir. O Peter Café Sport é um ponto fulcral no mundo. Um dos mais intensos que já vi.
Há outro lugar como o Peter Café Sport, mas não se situa nos Açores. Está nas nossas mentes. É um lugar onde diferentes culturas, domínios e disciplinas convergem em direcção a um único ponto. A ligação que estabelecem permite o choque e a combinação entre conceitos estabelecidos, o que acaba por formar uma miríade de ideias inovadoras.”
Segundo a Amazon.com “O Efeito Medici” foi um dos 10 melhores livros de gestão de 2010.
Este pequeno excerto da introdução de “O Efeito Medici”, que utiliza o "nosso" Peter como exemplo, sintetiza o que deveremos fazer para sermos grandes. Teremos de ser “um lugar onde diferentes culturas, domínios e disciplinas convergem” para produzir inovação e desenvolvimento.
Foi assim em todas as épocas de prosperidade nos Açores.
Depende de nós ser assim todos os dias!


NOTA: Uma adaptação deste artigo foi publicada na edição de 19 de dezembro de 2012 do Açoriano Oriental