novembro 11, 2012

Ananás

Quem frequenta supermercados habituou-se a ver nas prateleiras do frio umas garrafas plásticas, primeiro com laranjas espremidas do Algarve e, mais recentemente, com outros sumos naturais, nomeadamente de maçã.
Alcobaça é conhecida, entre outras coisas, pelas suas maçãs, cuja produção atravessou uma crise devido a um desajustamento entre o que pretendia o mercado em termos de qualidade e preço e o que os produtores lhe eram capazes de entregar.
A solução para este caso foi duplamente inovadora.
Os produtores não pediram ao governo que lhes solucionasse o problema. Partiram, antes, à procura de novos segmentos de mercado, que encontraram, e tornaram-se pioneiros na utilização de tecnologia, também ela, nova.
Criaram um novo produto, que facilitou o aproveitamento de toda a fruta e o acesso ao mercado.
A fruta fresca, que continua, no entanto, a ser a principal fatia do negócio, também beneficiou da modernização e inovação, que possibilitaram o seguimento da fruta e o seu rastreio, garantindo a sua qualidade.
De acordo com a informação que é pública a maçã de Alcobaça voltou a ser um bom negócio e os produtores que a ela se dedicam têm obtido resultados interessantes.
Eis o exemplo de uma produção tradicional que se revitalizou e reinventou, à custa do dinamismo, visão e espírito de iniciativa dos seus produtores, voltando a gerar riqueza. É, por isso, um caso sobre o qual deveríamos procurar aprender mais.
 

outubro 20, 2012

Compreender para replicar


Passou nas televisões, há uns meses, um filme publicitário de uma operadora de comunicações, que mostrava como se aplicavam as modernas tecnologias de informação à gestão de uma exploração frutícola.
O que vimos dava ares do céu. Tudo parecia perfeito!
De início fiquei com a ideia de que o filme procurava apenas mostrar o potencial da tecnologia actual, mas verifiquei que, afinal, era um testemunho.
Aquela exploração existe, o sistema que é apresentado não é ficção, nem um olhar imaginativo sobre a realidade. Constitui-se como parte imprescindível do sucesso empresarial que os seus promotores conseguiram.
Em 1988 tive a possibilidade de visitar uma exploração pecuária nos EUA, onde pude ver um sistema informatizado de gestão, que permitia conhecer, com muita exactidão, todos os dados sobre cada um dos animais, possibilitando um apuramento dos custos individuais de produção e dos proveitos com que cada animal contribuía para o rendimento global da exploração.
Lembro-me que o que mais me incomodou na altura dessa visita foi a percepção do quão longe estávamos dessa realidade em Portugal.
Senti-me orgulhoso quando, recentemente, fiquei a saber que nos Açores já se utiliza tecnologia semelhante, que tem correspondido às expectativas do investidor.
Os exemplos que registei deixam claro, que, em termos tecnológicos, vencemos o atraso, igualando o que de melhor se faz em todo o mundo.
Compreender as razões do sucesso na frente tecnológica será um excelente contributo para progredirmos em outras áreas, nas quais não fomos, ainda, capazes de encontrar o caminho certo e um desafio que nos deve conduzir à reflexão.

agosto 23, 2012

D. Sebastião


D. Sebastião partiu para África motivado pela obsessão de combater os inimigos da cristandade de que ele julgava ser o instrumento de salvação.
Perdemos a Batalha de Alcácer Quibir, de onde D. Sebastião não voltou.
Ficámos com uma crise dinástica e perdemos a soberania.
D. Sebastião foi o problema, porque se meteu por onde não devia, mas, igualmente, o desejado, porque, para muitos, se mantinha a crença de que voltaria para garantir a nossa independência.
Dele se esperou o impossível: que regressasse para resgatar a Nação!
Em Portugal somos muito propensos a criar grandes expectativas em tudo em que nos metemos, quando, em muitos casos, deveríamos ser mais humildes nessas esperanças.
Ao longo dos últimos anos temos saudado, inúmeras vezes, a chegada de “D. Sebastião”.
Ele já foi educação, turismo, energias alternativas, vias de comunicação, novas tecnologias, mais recentemente mar, actualmente austeridade e já se percebeu que o candidato a próximo “D. Sebastião” é crescimento.
É certo que temos uma vocação ou uma aptidão especial e é verdade que em cada momento da nossa vida temos de ter prioridades, mas não podemos esperar resolver todos os nossos problemas de uma assentada e apenas com base num só aspecto.
Temos de apostar, trabalhando afincadamente, no que pode trazer retorno e não ficarmos, apenas, à espera que se concretizem as propriedades milagrosas que são atribuídas a um sector, a um processo ou a um cluster.
Temos de explorar todas as possibilidades e trabalhar em todas as frentes, esperando de cada coisa somente aquilo que ela pode dar!
D. Sebastião morreu! Não vale a pena perdermos mais tempo à espera dele!

agosto 09, 2012

Olha, vê!

Olha, vê é uma expressão muito usada pelos madeirenses, que, à primeira vista, parece redundante, mas que, interpretada com mais profundidade, revela a necessidade de olharmos e de, em simultâneo, vermos, o que nem sempre, como provavelmente já experimentámos, acontece.
Quantas e quantas vezes olhamos e nada vemos?!
Li, há dias, num artigo publicado na revista “The Economist” que o dono da cadeia de retalho de “lingerie” Victoria´s Secret passava um mês por ano a viajar pelo mundo, vendo o que faziam as outras empresas, em busca de ideias para aplicar na sua.
Vivemos nos Açores demasiado fechados sobre nós mesmos, distantes do mundo, que, muitas vezes, apenas olhamos ao longe e de forma difusa.
Temos de partir em viagem!
Temos de ir conhecer o mundo! Olhá-lo de perto e vê-lo!
Temos de abrir os olhos e a mente, fazendo um esforço para compreender o que os outros fazem e perceber como o fazem. Reflectir sobre a realidade deles e a propósito do nosso quadro de vida. Verificar como podemos aproveitar o que vemos ao serviço dos nossos objectivos e no contexto das nossas das nossas idiossincrasias e limitações.
Finalmente, temos de regressar a casa e partilhar com os nossos concidadãos o que vimos e o que pensámos, agindo.
O que trouxermos do mundo tem de resultar em valor, fruto das nossas capacidades para observar, para pensar, para criar, para inovar e para fazer.
Boa viagem.

julho 08, 2012

Dieta

Uma vida mais sedentária e um maior relaxe em termos alimentares fizeram com que fosse ganhando peso, apesar de algumas dietas temporárias.
Há pouco mais de dois anos achei que deveria fazer algo para perder peso e para mantê-lo consistentemente a um nível mais saudável.
Recorri a ajuda externa.
Fui a um Nutricionista, que me organizou um plano alimentar, prescrevendo que comesse menos, que utilizasse alimentos diferentes, combinados de uma forma distinta da que habitualmente seguia.
Mandou-me, igualmente, fazer exercício físico e disse-me que só teria sucesso se me comprometesse seriamente a cumprir o programa.
Portugal sentou-se à mesa.
Havia dinheiro, o que facilitou uma menor preocupação em avaliar, tão profundamente como deveríamos, as consequências das opções que íamos fazendo.
Demos por nós, já obesos, com dificuldade em respirar.
Recorremos a ajuda externa.
Fomos ao resgate da Troika, que nos prescreveu austeridade, que é absolutamente necessária. Só poderemos sobreviver se resistirmos à tentação de viver acima daquilo que permitem os nossos rendimentos.
Todavia, para assegurarmos a nossa sobrevivência temos, também, de alimentar o nosso desenvolvimento, mas investindo os nossos recursos com outros critérios, em outros sectores e à procura de outros objectivos.
A sobrevivência da sociedade, que precisamos de garantir, requer, igualmente, que ela seja menos dependente do Estado, mais dinâmica e inovadora.
É com isto, para que haja sucesso, que todos temos que nos comprometer.

maio 20, 2012

É Pouco!

Há mais de um ano um dos serviços noticiosos de uma estação de rádio daqui de São Miguel, incluiu uma peça na qual se ouvia o Secretário Regional da Agricultura e Florestas, anunciar, à chegada de Lisboa, que havia conseguido mais uma verba para apoio da lavoura.
Logo de seguida foi possível conhecer a opinião da Associação Agrícola, que através do seu Presidente, declarou o mesmo de sempre: A verba era diminuta e insuficiente!
Três perguntas, que nunca mais esqueci, instalaram-se de imediato na minha mente:
Porque será que o dinheiro que temos nunca chega?
Quanto dinheiro será necessário para ser suficiente?
Será mesmo de dinheiro que precisamos?
Temos prosseguido um modelo que faz corresponder a cada problema uma saca de dinheiro, como se ele fosse um comprimido para remediar, sem mais, uma qualquer maleita.
Centramos, quase sempre, a nossa atenção nele, perdendo, por isso, o foco que devemos ter em outros aspectos que são determinantes.
Deverá ser assim?
O dinheiro é importante. É mesmo indispensável. Mas não é a solução. É, apenas, um meio.
Estou convicto de que temos de abandonar este modelo e concentrar a nossa energia e a nossa inteligência na procura de entendimentos claros sobre qual poderá ser o nosso caminho e na escolha coerente do que temos de fazer em cada momento para o construir.
É isso que fará com que o dinheiro que temos, mesmo que pouco, seja sempre bem gasto.

abril 11, 2012

Estou bem aonde não estou

Assim cantava António Variações em Estou Além, de cujas letra e música era, também, autor.
Li, há uns meses, um artigo num jornal local, escrito por um concidadão, que expressava a sua vontade de viver nos Açores usufruindo de um conjunto de facilidades da vida em outras paragens, defendendo que isso era um direito nosso.
Não concebo a vida sem ambição, nem o homem sem capacidade de sonhar, mas o Rossio não cabe na Betesga. É fisicamente impossível!
Nunca somos totalmente livres. Há sempre algo que nos limita, mas ninguém vive nos Açores obrigado e nunca como hoje foi tão fácil partir.
Muitos ficam porque há sempre muitos em todo o lado que ficam na sua terra, mas há muitos, também nos Açores, que ficam por opção. Porque acham que é o melhor!
Já há, também, muitos que vêm porque querem.
Viver nos Açores não é uma fatalidade!
Há quem escolha fazê-lo porque encontra aqui coisas que valoriza mais do que outras que estão acessíveis em outros espaços.
Ao discurso que dá voz às nossas ambições temos de somar palavras que registem o quão bom é viver nos Açores.
À capacidade que temos tido para mostrar aos outros que as nossas debilidades justificam a sua ajuda ao nosso desenvolvimento, temos juntar a inteligência de promover as nossas virtudes para mobilizarmos a nossa vontade de fazermos melhor.    
Quem quiser deliciar-se com as boas coisas da vida de New York deve ter em conta que não poderá prescindir das agruras da vida nessa cidade, mas deve ir para lá.
Não há forma de viver lá, vivendo aqui!

março 14, 2012

Levanta-te e anda!

Já ouvi e li por várias vezes que em Portugal, e em geral na Europa, lidamos mal com os erros e com os falhanços, razão pela qual a nossa sociedade seria hoje menos dinâmica do que outras.
Não possuo qualquer evidência de que isso seja exactamente assim, mas tenho uma profunda convicção de que existe uma relação, por mais ténue que seja, de causa efeito entre essas duas questões.
Antes de prosseguir com a minha reflexão devo, como ponto prévio, registar que não subscrevo qualquer atitude ou acção desresponsabilizante perante os erros.
Quem age tem de ter a consciência do que faz, das suas implicações e responsabilizar-se pela sua ocorrência.
Temos, pois, que preparar sempre as decisões com rigor, agir com concentração e olhar para os resultados com exigência.
Mas a vida é um exercício de bom senso e quem não tem pecado que atire a primeira pedra.
Somos peritos em dissecar os erros, sobretudo se cometidos por outros, e especialistas em desfazer quem os comete.
Somos rápidos a diminuir quem falha e lestos a expor a suas fraquezas.
Quantos e quantos falhanços não foram etapas de caminhadas para grandes feitos?
Temos de mudar a nossa atitude!
Temos de alterar a forma de encararmos as coisas!
Dos erros podem retirar-se ensinamentos.
Dos falhanços obtem-se experiência.
Quem falha tentou. Contribuiu. Não se demitiu. Pretendeu mais. Almejou melhor.
O medo do erro e o receio do falhanço provocam a paralisia. Fazem com que se escondam os talentos e prejudicam a felicidade do mundo.
Temos, pois, de favorecer um clima social, que não festejando os erros e os falhanços, os olhe sem dramatismos nem sentimentos guerreiros, porque os erros têm um lado positivo.

fevereiro 29, 2012

Um jogo?

Fui praticante de Basquetebol e, também, árbitro dessa modalidade.
Lembro-me que a regra inicial do jogo, aquela que definia o seu objectivo, explicava que era fim de cada equipa introduzir a bola no cesto da equipa adversária, impedindo que ela fizesse o mesmo.
Observando o que se passa à minha volta concluo muitas vezes, porque abundam os exemplos, que a política, pelo menos em Portugal, é exercida por muitos como se de um jogo se tratasse. Às vezes parece que o objectivo de uns tantos actores políticos é conquistar o Poder, impedindo que os adversários o consigam.
Na realidade o objectivo da actividade política é outro!
A acção política deveria centrar-se na escolha do que fazer aos recursos de que dispomos colectivamente, procurando maximizar o seu resultado e considerando os objectivos da sociedade.
É, pois, por isso, que os actores da política deveriam concentrar-se em elaborar propostas que respondessem a essas questões, em apresentá-las e em explicá-las aos seus concidadãos.
É vital que a sociedade debata, de novo, mas com serenidade, as ideias, a ideologia, os valores e os princípios.
O Poder é importante. Se queremos fazer algo por nós próprios temos de ter a capacidade de definir ou influenciar decisivamente o rumo da sociedade, mas o Poder é, assim e apenas, um instrumento.
Foi montado à volta da actividade política um espectáculo mediático, que, em muitos aspectos, tem, infelizmente, bastas semelhanças com a cobertura que é feita ao futebol.
Em inúmeros casos o que é relevante fica tapado pelo interesse, pequeno, de se discutir se uma declaração, medida ou posição prejudicam a conquista ou a manutenção do Poder.
Recordo que há uns anos certo jornalista questionava, com insistência, um político sobre se determinada ocorrência seria uma vitória ou uma derrota.
O episódio ilustra uma certa visão da política que floresce em Portugal e que é necessário, do meu ponto de vista, combater.

fevereiro 15, 2012

O preconceito

Nos últimos tempos tenho ouvido com frequência menções ao preconceito ideológico.
Acusa-se o governo, este e o anterior, de que faz certa coisa por preconceito ideológico. Critica-se o opositor porque defende a alternativa só por preconceito ideológico. Contradita-se quem connosco discute porque pensa o que diz apenas por preconceito ideológico.
Confesso que não entendo!
Uma ideologia é um conjunto de valores prévios que enformam e determinam o modo como vemos a sociedade de que fazemos parte e como nela nos inserimos.
Uma ideologia é uma referência de compreensão e um guia de acção.
Apreciamos, hoje, o pragmatismo, que nos encurtece a visão, porque parece assegurar, sem dor, a solução imediata para o que nos atormenta.
Ao contrário, a ideologia, que nos permite ver mais longe, obriga-nos a fazer opções, trazendo, por isso, desconforto.
O pragmatismo, quase sempre, tende a simplificar a realidade, que é sempre complexa.
O pragmatismo, muitas vezes, é a desculpa para irmos na onda, quando, frequentemente, deveríamos lutar para mudar-lhe o curso.
O pragmatismo é necessário, mas há, hoje, um desequilíbrio que necessita de ser corrigido.
A ideologia, e com ela os valores, precisa de ganhar peso e de ser assumida sem vergonha.
É imperioso temperarmos, em nova e diferente proporção, o guia da nossa vida.
Se o fizermos grande parte dos problemas que atravessamos serão resolvidos e não voltarão a atormentar-nos no futuro.

fevereiro 01, 2012

Para que continuemos a ter Estado!

“Se quisermos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude” (Lampedusa)
Sou dos que pensam que o Estado é necessário e que continua a ter um papel na nossa sociedade, que dele não pode prescindir.
“Do lado do rei, com certeza, mas de que rei?” (Tancredi replicando ao tio, quando este lhe manifestou oposição pelo facto de aquele ter seguido os liberais)
O Estado nasceu para defesa de um conjunto de interesses, que sendo de todos não deveriam ser da responsabilidade de ninguém individualmente, embora cada um tivesse de assumir, como expressão de um bem público que é a solidariedade, uma parte da responsabilidade colectiva.
O Estado é, pois, para mim, antes de tudo o mais, um instrumento de garantia ou materialização de solidariedade entre cidadãos.
O que deve o Estado fazer? Em que escala o deve fazer?
Sem grande preocupação justificativa, porque o objectivo é promover a reflexão, registo que o Estado deve nos dias de hoje, para cumprir o que acima deixei dito, garantir aos cidadãos acesso a educação, saúde, justiça, segurança e assegurar uma distribuição de rendimentos que não limite o acesso dos cidadãos aos bens referidos e lhes possibilite uma vida digna.
É isso que acontece?
O que faz o Estado com os recursos que tem?
Cumpre o que dele esperam os cidadãos?
Age com aquelas prioridades em mente?
Quantas vezes são essas prioridades prejudicadas porque se faz o que é acessório ou não deve constituir prioridade do Estado?
E nós, cidadãos, o que pedimos do Estado?
Quantas vezes não reclamamos dele o que a ele não diz respeito?
Quantas vezes não exigimos do Estado mais do que é justo?
O que dele desejamos corresponde a um bem colectivo ou é, apenas, um interesse de grupo, sem relevância para a sociedade?
Estou convicto de que temos de mudar.

NOTA: Uma adaptação deste artigo foi publicada na edição de 22 de agosto de 2012 do Açoriano Oriental.