junho 27, 2013

Ouvir

A estabilização e a consolidação das democracias tornaram definitiva a emergência da comunicação como questão essencial do nosso tempo.

Aos cidadãos, que em democracia são a fonte do poder, é necessário garantir o conhecimento e a informação que possibilitem as melhores escolhas.

A liberdade, sem a qual não há democracia, e o inegável desenvolvimento cultural a que acedemos fizeram-nos ganhar o interesse por afirmarmos a nossa opinião, o que é, em muito, facilitado pelos novos instrumentos de comunicação, que os avanços tecnológicos nos ofereceram.

A abertura do sector da comunicação social à iniciativa privada e a consequente competição entre os agentes desse sector contribuiu, decisivamente, para aumentar as oportunidades de distribuição da informação e fez crescer a procura por informação, o que aumentou a pressão sobre as fontes e transformou temas até então desinteressantes em focos de atenção pública.

A capacidade de comunicação tornou-se, assim, numa competência imprescindível para os cidadãos e para as suas organizações.

Multiplicou-se, por isso, a oferta formativa nesta área e cresceu exponencialmente a bibliografia sobre o tema.

Ocorre que este desenvolvimento se deu reduzindo o conceito de comunicação.

Hoje são muitos os que pretendem, pelas mais diversas razões, fazer valer os seus pontos de vistas, socorrendo-se, para isso, já não apenas da valia intrínseca dos seus argumentos, mas também, e muitas vezes sobretudo, da sua habilidade para acomunicação, que gradualmente foi sendo associada apenas ao acto de emitir uma mensagem.

Sucede que comunicar é, igualmente, ouvir!

Ouvir presume atenção e obriga a compreender a mensagem, o seu contexto e a sua raiz.

Ouvir requer abertura para mudarmos e uma postura humilde, que admita que a razão pode estar do outro lado.

Num mundo em que sempre queremos saber quem perde e quem ganha, o que é valorizado é a capacidade de persuasão, que, embora muitas vezes o esqueçamos,melhora se formos competentes a ouvir.

O futuro que temos de salvar da dureza dos tempos que correm, muita dela causada pela incerteza que sentimos, exige que sejamos melhores ouvintes, o que inclui, também, uma atitude diferente para com os que ouvem, que são de entre nós, nos dias que correm, os mais corajosos.

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